Montadoras do Vale do Paraíba vivem realidades opostas em São José e Taubaté

As duas maiores montadoras de automóveis do Vale do Paraíba parecem estar em países diferentes: uma demite e a outra contrata. Enquanto São José dos Campos vive um drama com a ameaça de demissão de 1.500 operários na GM, Taubaté comemora a perspectiva de contratação de aproximadamente este mesmo número de trabalhadores nos próximos anos na Volkswagen. Tanto num caso como no outro, para cada emprego direto nas montadoras, calcula-se outros seis na cadeia produtiva.

 

O Sindicato dos Metalúrgicos de São José dos Campos pediu reunião com o prefeito Eduardo Cury (PSDB) para discutir a ameaça das demissões. Segundo a prefeitura, a reunião deve acontecer na próxima semana. O presidente do Sindicato, Vivaldo Moreira Araújo, afirma que a prefeitura já havia sido procurada por diversas vezes e nunca os atendeu. “Mas depois que o prefeito Eduardo Cury soltou uma nota nos jornais falando sobre a GM, nós queremos conversar, saber qual a posição dele e debater a melhor maneira de lidar com isso, até mesmo porque o poder público tem que se preocupar com isso”. Vivaldo também atribuiuo problema à guerra fiscal. “Infelizmente existe uma disputa fiscal muito grande, e as empresas buscam vantagens”.

 

Problema político

 

Para o cientista político Fábio Ricci, professor da Unitau, São José está sofrendo de um mal de ordem política. “São José precisa parar de atuar a reboque dos acontecimentos. A mesma coisa aconteceu no caso do Pinheirinho, que ficou conhecido em todo o país. Ao invés de contornar a situação enquanto era mais fácil, deixou-se o problema crescer até virar uma bomba. Agora acontece coisa semelhante na GM: o problema já estava anunciado, com o desvio de produção para outras unidades da empresa, e precisava ter sido cuidado com antecedência, como aconteceu em Taubaté na Volkswagen”.

 

O presidente da Associação Comercial e Industrial de São José dos Campos, Felipe Cury, aponta ruídos no processo de negociação, mas reforça que a decisão da GM ainda não está consolidada. “A Prefeitura está permanentemente em diálogo com a cúpula da empresa. Já o sindicato precisa rever seu posicionamento radical e tentar somar com os anseios da região”. Mas prefere ser otimista, lembrando que a própria empresa considera a planta de São José dos Campos privilegiada mundialmente, seja pela disponibilidade de área para expandir ou pela infraestrutura de fornecedores de autopeças da região.

 

Comparando a situação da GM com a Volkswagen de Taubaté, Felipe Cury aponta a diferença da atuação do movimento sindical. “Sindicato de Taubaté é bem constituído e formado por pessoas de mente aberta e olhos no futuro. Não é político e está permanentemente aberto ao diálogo construtivo. Assim vai se tornando um bom exemplo a ser seguido”.

 

Taubaté


O Gerente do CIESP Regional Taubaté, José de Arimathea Campos, também aponta o fator sindical como uma das causas da diferença de resultados entre as duas regiões. Na região sediada em Taubaté, que também envolve cidades como Pindamonhangaba, Guaratinguetá, Lorena e Cruzeiro, o Ciesp aponta um crescimento de 1.300 postos de trabalho na indústria neste primeiro trimestre, fruto sobretudo do bom momento do setor automobilístico. “Também houve acordo do sindicato na indústria eletroeletrônica que colaborou para manter uma estabilidade”.

 

Segundo Arimatéia, a falta de um acordo com o Sindicato de São José dos Campos fez a GM levar os investimentos para outras regiões, “que agora vai fazer falta para São José”. Ele diz que quando a Volks planejou seus investimentos, debateu isso com o Sindicato de Taubaté, que avançou nas negociações. “Vai gerar crescimento de empregos, estimados em 8 mil postos, e de renda. Isso é uma expectativa muito interessante para nossa cidade”.

 

Pró-ativo


O presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Taubaté, Isaac do Carmo, explica que a ameaça que paira sobre a GM em São José dos Campos poderia também ocorrer na Volkswagen se nada fosse feito. “Se a Volks tivesse partido para a opção de abrir uma nova fábrica em outra região do país, logo estaríamos sendo ameaçados de perder produção para essas unidades, sobretudo pelo menor salário que pagariam”.

 

Antevendo o risco e ao mesmo tempo enxergando uma oportunidade para a cidade, a direção do Sindicato resolveu se mobilizar ainda no ano passado. “A maioria das pessoas só tomou conhecimento do caso agora, mas há seis meses já havíamos começado a atuar, inclusive junto ao governo federal, alertando o BNDES do possível prejuízo que poderia ser causado às fábricas já instaladas”, revela Isaac. Essas ações, segundo o Sindicato, ajudaram a abrir a negociação com a empresa e a enfrentar a disputa com os governadores de Estado que ofereceram benefícios fiscais à Volkswagen para levar o investimento. “O sindicalismo hoje não pode mais só esperar as coisas acontecerem. O mundo é muito dinâmico. Precisamos estar bem informados e ser pró-ativos”.

 

Volks pode passar GM em número de funcionários


Uma das maiores fábricas do Vale do Paraíba, a GM só perde para a Embraer entre as empresas que mais empregam no setor industrial da região. Mas se forem confirmadas as 1.500 demissões que a empresa está ameaçando fazer, seu contingente vai cair dos atuais 8 mil para 6,5 mil empregados.

 

Já a fábrica da Volkswagen, em Taubaté, hoje tem 5.200 trabalhadores. Com o acordo recentemente firmado com o Sindicato, esse número pode crescer em cerca de 1.500 vagas, para dar conta do aumento de produção, que até 2016 deve passar de 1.080 para 1.900 carros por dia.

 

Neste cenário, a montadora de Taubaté ultrapassaria a de São José como maior empregadora.

 

Base diferenciada


Outra diferença importante entre os metalúrgicos das duas maiores cidades do Vale é a relação entre trabalhadores e seus sindicatos. Com uma base de 42 mil metalúrgicos, o sindicato de São José dos Campos tem cerca de 14 mil filiados. Já a entidade de Taubaté tem mais de 18 mil sócios, mesmo com uma base bem menor, de 23 mil trabalhadores.

 

“Os Metalúrgicos de Taubaté tem um índice de sindicalização de cerca de 80%, que é um dos mais altos do Brasil. Isso também faz diferença na hora sentamos numa mesa de negociação, porque a empresa sabe que temos uma forte representatividade”, explica Isaac do Carmo, presidente do Sindicato de Taubaté.

 

Fonte: Diário de Taubaté

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