Por trás da crise

Números desoladores do ritmo industrial em dezembro assustaram o mercado. O baque da produção atingiu níveis recorde. Faltou, diante do desempenho, observar com mais atenção o que está por trás de tamanha queda. A indústria parou em dezembro não por conta de algum recuo monumental de consumo. A indústria parou de medo. Medo do que poderia estar por vir. Medo do desconhecido. Medo de um cenário que ela ainda nem sequer estava vivenciando. Várias das empresas que estancaram sua produção passavam exatamente naquele momento por uma primavera de vendas, com crescimento de demanda e resultados que só a estimulavam a seguir em frente. Os dados de seus levantamentos são inequívocos. Recordes de produção sobre recordes de vendas. Muitas estavam nessa condição. Mesmo assim, botaram o pé no freio. Da noite para o dia, fecharam para balanço. Deram férias coletivas. Estacionaram as máquinas e viveram dos estoques até ali ainda robustos. Incorporaram a chamada crise de expectativas, na base do esperar para ver no que vai dar.


Poucas vezes na história do País registrou- se uma paralisação tão abrupta em um único mês. Foi como se todas as companhias quisessem importar na marra o problema que, todos sabem, tem raízes e foco agudo nos EUA – com reflexos por aqui, é certo, mas bem menos intensos na prática. Historicamente, paradas industriais são decorrentes de um processo gradativo. A demanda cai, a oferta segue atrás. Não foi assim desta vez. Contrariando o curso natural, muitas dessas empresas iniciaram janeiro sendo pegas no contrapé. A automobilística, por exemplo, já está sem carro para entregar, dada a grande procura de compradores que agora entram em fila de espera. Bens de consumo duráveis em geral estão com vendas em alta. O setor de aço experimenta um aumento de pedidos. O de serviços amplia posições. As commodities agrícolas mergulharam numa escalada de alta de preços devido à escassez de produtos. E, por tabela de todo o processo, o uso industrial de energia elétrica voltou a crescer. Na média, muitos erraram a mão em dezembro e agora correm atrás do prejuízo. De todo modo, os dados sinalizam uma recuperação mais rápida do que poderiam supor os alarmistas de plantão.

 

Por Carlos José Marques
Fonte: Isto é Dinheiro – Revista

 

 

 

 

Compartilhe:

Associações e parceiros